Dança do Ventre Infantil


ESCLARECIMENTOS SOBRE DANÇA DO VENTRE NA INFÂNCIA:

É dever profissional colocarmos a disposição de nossos alunos, pais e sociedade em geral, alguns esclarecimentos acerca de informações incorretas que algumas pessoas tentam difundir sobre de determinados assuntos, especialmente relacionados à nossa atividade. Sendo assim para evitar que tais colocações sejam tomadas como verdadeiras, deixaremos aqui algumas considerações sobre o tema dança do ventre e crianças. Inicialmente começaremos pela difusão de que a dança do ventre causa problemas na coluna e, portanto, seria contra-indicada para crianças.Primeiramente a dança do ventre assim como qualquer outra dança ou atividade que movimente diferentes segmentos do corpo, esta sujeita a cuidados especiais por parte do profissional que ensina tal modalidade, devendo ter atenção aos níveis de crescimento e desenvolvimento que os alunos estão. Normalmente quem faz tal afirmação indica a pratica do ballet em contra-indicação a dança do ventre.

Vejamos então, o tamanho da incoerência, de acordo com o pediatra Marcos Santolin: “… o ballet é uma atividade muito boa, mas alguns cuidados devem ser tomados, a criança não deve ser forçada a fazer nenhum tipo de atividade, além disso, os pais e os professores devem sempre tomar muito cuidado com as lesões provocadas por certos movimentos, quando o exercício é exagerado pode ocasionar uma série de lesões graves, por exigir muito da parte óssea e muscular da criança, que ainda está em desenvolvimento. As lesões mais perigosas são no quadril, mas também podem acontecer nas articulações. É sempre bom ter muito cuidado com os ligamentos. O uso da sapatilha de ponta muito cedo também pode ser um perigo…”. Ainda pode ser lido a Monografia de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para obtenção do título de especialista em Fisioterapia Traumato Ortopédica e Esportes, com o título: ANÁLISE POSTURAL NA PRÁTICA DO BALLET CLÁSSICO INFANTIL, autora Francine de Aguiar.

Desta forma fica evidente que não existe modalidade apropriada ou não para determinada idade, mas sim a forma como ela será desenvolvida, Marcos Santolin também afirma que:  “ O ballet gera um ótimo condicionamento e ajuda bastante na postura das crianças, mas uma dica é sempre fazer uma avaliação antes de começar com os exercícios. Antes de começar qualquer atividade física, o correto é fazer uma avaliação com um médico ortopedista. Mas o ballet é um ótimo exercício”. Nem mesmo a preexistência de algum problema impede a pratica da dança, segundo o Prof. Ms. Leonardo Duarte Picchi: “Creio que não haja problemas de realizar a dança do ventre mesmo tendo escoliose. Existem vários tipos de escoliose, a maioria delas é compensada, ou seja, mesmo com curvaturas látero-laterais, a distribuição de forças pode estar pouco comprometida, sendo assim, como este tipo de dança trabalha ambos os lados do corpo, não acredito que a escoliose piore pela simples prática da mesma…” Por tanto, quanto a dança do ventre ser prejudicial a saúde não há nada que a difira de outras danças, em pesquisas e por vivência própria, tanto em questões biomecânicas quanto fisiológicas de qualquer espécie. não há estudos científicos que comprovem qualquer problema relativo a estrutura corpórea (lesões ou alterações músculo-esqueléticas) ou no trato hormonal (questões menstruação ou desenvolvimento sexual).

A segunda questão tange a inadequação da dança do ventre para crianças por creditar ser uma dança, que corretamente denota a feminilidade, mas que erroneamente no ocidente foi induzido a sensualidade, típico da visão do Orientalismo, termo comumente utilizado para definir o estudo por cientistas e intelectuais das culturas eurocêntricas do conjunto histórico e cultural teoricamente constituído por todas as sociedades “fora” do contexto ocidental da cultura européia. O seu objetivo, não assumido, foi a busca da justificação do processo imperialista através do discurso de redenção dos “primitivos, inferiores e subdesenvolvidos”. Tal prática mostrou-se amplamente nociva e eficaz em criar um desinteresse absoluto em conhecer mais profundamente as civilizações asiáticas e africanas, bem como de trabalhar o medo e a desconfiança em relação aos dominados, cujas sociedades eram tidas como “incultas, irracionais e perigosas”. Para Edward Said, autor do livro “Orientalismo” ficam explícitos como tais expedientes atuam, até os dias de hoje, na construção da imagem do mundo islâmico. Algumas áreas com mais tradição em estudos asiáticos, como a sinologia e a indologia, conseguiram de algum modo superar parte desta carga de preconceito.

Pode-se, portanto, afirmar que o orientalismo – em sua tendência ortodoxa – foi uma das teorias criadas em meio as ciências humanas que maior êxito obtiveram em deturpar a mentalidade ocidental sobre o que seria o “oriente”, tornando-o exótico, misterioso, problemático e perigoso. A própria origem da dança do ventre é desconhecida, infelizmente não há documentos suficientes que comprovem a dança até o século XX e a documentação existente é difícil de interpretar, pois dança é uma arte visual e o que se tem é a visão subjetiva do espectador que a assiste. São muitas as teorias sobre seu surgimento: alguns falam de ciganos indianos, outros da corte no Império Otomano, porém a mais divulgada fala em ritos primitivos de sacerdotisas a Deusa da fertilidade (agrícola) e que os movimentos abdominais preparavam a mulher para o parto, talvez por tudo isso a visão disseminada foi sendo deturpada com o passar do tempo, embora egiptólogos afirmem que as danças egípcias tinham natureza acrobática.

A dança do ventre infantil é como qualquer outra pratica física nessa faixa etária, deve-se buscar introduzir o gosto pela dança, não necessariamente a técnica,  adaptando a dança ao universo infantil e familiariza-la com esse meio. Assim esclarecemos que: “ O aprendizado da dança do ventre para crianças tem um aspecto lúdico e praticado com aulas dinâmicas, transformando o esforço e a técnica em uma atividade prazerosa. Conhecendo o próprio corpo, aumentando a noção de espaço, lateralidade, trabalhando o equilíbrio e postura.

Praticada desde a infância, a dança do ventre favorece aspectos como criatividade, sensibilidade, musicalidade e socialização, melhora a coordenação motora, a disciplina e a timidez, tornando as crianças mais comunicativas e confiantes, o que contribuindo para a sua formação social.” Normalmente os pais não tem uma opinião formada, porque tem dúvidas ou querem a informação vinda de um profissional e não só daquilo que “ouviram” ou pensam saber.

Afinal é fácil concluir que qualquer dança pode ser muito mais sensualizada e/ou erotizada do que a própria dança do ventre, basta o propósito e a composição do artista coreografo/bailarino abordarem a sua dança desta forma. Um caso similar acontece com o Pole Dance, “cuja as origens vêm da prática do mallakhamb, que nada mais é do que uma ginástica praticada em um poste de madeira, praticado principalmente na Índia desde o século XII”, mas tomou outra conotação com o passar do tempo e popularizou como uma apresentação erótica. Atualmente, por esforço de seus adeptos, já é considerado um esporte/dança performática e inclusive busca sua inclusão nas olimpíadas dentro da ginástica artística, o tem revertido esse preconceito com a modalidade. Concluindo, é necessário buscar a veracidade de determinadas afirmações que algumas pessoas divulgam, e muita vezes não baseia-se em fundamentação, estudo ou pesquisa, pois simplesmente tem a função de distorcer fatos e usa-los para seu beneficio ou como argumentação “barata”.

Procure sempre profissionais capacitados, conteste, pesquise e ouça mais de uma opinião.